A Motiva (MOTV3) conquistou a concessão da rodovia Fernão Dias com deságio de 17,05% na quarta-feira (10), movimento que acendeu um sinal de alerta no BTG Pactual. Embora o banco mantenha recomendação de compra, os analistas indicam monitoramento mais próximo devido à agressividade do lance e aos compromissos de investimento associados ao contrato. A vitória reforça a presença da companhia no setor, mas exige execução precisa para equilibrar retorno e risco.
Em comparação com disputas anteriores, o desconto desta rodada foi bem acima do padrão histórico da empresa. No Lote 4, por exemplo, a Motiva ofertou cerca de 9% de deságio, demonstrando uma postura mais conservadora. Esse salto para 17,05% chama atenção por pressionar margens e elevar a necessidade de eficiência operacional já nos primeiros anos da concessão. Para o BTG, o ponto central é a disciplina na alocação de capital.
A concessão envolve prazo reduzido e investimentos intensivos, com capex estimado em aproximadamente 16% dos compromissos totais da empresa até o terceiro trimestre. Isso exigirá cronograma rigoroso, gestão de fornecedores e mitigação de riscos de obra, especialmente em trechos críticos. A estrutura tarifária prevê três reajustes escalonados — 40% no primeiro mês, 80% no 13º mês e 27,69% no 25º mês — buscando calibrar receita e demanda.
Historicamente, a Motiva tem entregado projetos de forma consistente, o que, segundo o BTG, ajuda a reduzir preocupações imediatas. A execução disciplinada, combinada à experiência acumulada, tende a sustentar a tese de investimento, desde que a alavancagem e o fluxo de caixa avancem conforme o planejado. O mercado, contudo, deve acompanhar indicadores operacionais e de obras com maior atenção.
A disputa teve a Motiva superando o Consórcio Infraestrutura MG, que ofertou 11,25% de deságio. A Arteris, operadora desde 2008, não apresentou proposta. O compromisso contempla R$ 9,5 bilhões em obras e R$ 5,4 bilhões em operação até 2040, incluindo manutenção, segurança e ampliação de capacidade. A assinatura do contrato está prevista para maio de 2026.
A Fernão Dias soma 569 quilômetros, atravessa 33 municípios e responde por cerca de 15% do PIB nacional, reforçando sua relevância logística. Para a Motiva, o projeto é estratégico e amplia a presença em um corredor vital. O desafio, agora, é transformar um lance competitivo em retorno sustentável, preservando a tese de crescimento lucrativo defendida pelos analistas.