Investor Day da Suzano marcou uma virada de tom em 2025, com abordagem mais cautelosa e reconhecimento explícito dos desafios estruturais da celulose. O BTG Pactual ressaltou o tom realista da gestão ao recalibrar expectativas sobre preços, investimentos e alavancagem em um ambiente de oferta elevada e competição acirrada. A empresa deixou de lado a narrativa otimista anterior e alinhou-se a uma postura de execução disciplinada.
Entre os vetores de pressão, a companhia citou a expansão acelerada de capacidade na Ásia, a integração vertical chinesa e o desempenho aquém do ideal em plantas globais. Para o BTG, o evento foi interpretado como tentativa de “resetar” a referência de preços da celulose, agora entre US$ 550-585 por tonelada, reconhecendo a fragilidade do poder de precificação quando as taxas de operação ficam abaixo de 90%.
Os analistas avaliaram que recuperações mais robustas exigem cortes efetivos de capacidade, algo incerto diante de cerca de 10% da capacidade global de hardwood operando no prejuízo. Ainda assim, elogiaram a coragem da gestão ao ajustar o discurso ao ciclo atual e reforçar o foco em rentabilidade. Esse enquadramento realista oferece um cenário-base mais crível para 2025-2027.
A Suzano, por sua vez, enfatizou disciplina operacional e captura de valor dos investimentos já feitos. A estratégia fiber-to-fiber segue como pilar de crescimento, com prioridade para ativos da joint venture com Kimberly-Clark e o fortalecimento das operações de bens de consumo. A companhia persegue ganhos de eficiência e diferenciação de produto para mitigar volatilidade.
Nos números, a guidance aponta custo caixa estável em R$ 787/ton até 2027, capex reduzido para R$ 10,9 bilhões e meta de dívida líquida de US$ 11 bilhões (ante US$ 12 bilhões). O BTG manteve recomendação de compra, argumentando que o valuation já incorpora o cenário adverso e que a alavancagem revisada é compatível com o ciclo.
Em síntese, o Investor Day consolidou um reposicionamento de expectativas, com ênfase em execução, disciplina de capital e realismo na dinâmica de preços. Para investidores, o caso depende de cortes de oferta globais e da capacidade da Suzano de sustentar eficiência operacional, enquanto a fiber-to-fiber evolui como motor de valor no longo prazo.